Esta possibilidade é muito remota, para não dizer
impossível. Para que esta afirmação pudesse ser possível, a obra do selamento
devia ser então efetuada enquanto estas tribos existissem. Ou seja, a obra de
selar 144.000 deveria ter sido executada antes da extinção de 10 tribos de
Israel, o que ocorreu sob o reinado do rei Oséias que reinou sobre Israel
aproximadamente por volta do ano 722 a. C.
Aconselhamos que se leia o capítulo 17 do livro de II Reis.
Resumidamente, segundo este texto sagrado e histórico, por causa da grande apostasia
que acometeu o reino do norte, o reino de Israel, o Senhor extinguiu aquelas
tribos. O texto hebraico relata o seguinte:
“Portanto
o Senhor muito se indignou contra Israel, e os tirou de diante da sua face; nada mais ficou, senão somente a tribo de
Judá.” II Reis 17:18.
O resultado final foi que “o Senhor tirou a Israel de
diante da sua presença, como falara pelo ministério de todos os seus
servos, os profetas; assim foi Israel expulso da sua terra à Assíria até ao dia
de hoje.” II Reis 17:23.
No lugar desses israelitas, para habitarem o reino do norte
e a capital, Samaria, o rei da Assírio, que havia então subjugado Israel, “trouxe gente de Babilônia, de Cuta, de Ava,
de Hamate e Sefarvaim, e a fez habitar nas cidades de Samaria, em lugar dos filhos
de Israel; e eles tomaram a Samaria em herança, e habitaram nas suas cidades.”
II Reis 17:24.
Aqui temos a origem dos samaritanos existentes nos dias de
Jesus. Estes assírios foram depois instruídos sobre o Deus Criador dos Céus e
da Terra e se tornaram adoradores do verdadeiro Deus (II Reis
17:25-34). Por sua origem pagã, os Samaritanos
eram, por este motivo, considerados imundos pelos judeus, ao ponto de um judeu
não pedir água para um samaritano (João 4:9).
Portanto, segundo a Bíblia, a única tribo remanescente de
Israel a partir de 722 a. C. foi a tribo de Judá e parte da tribo de Benjamim,
que habitavam no reino do sul. A linhagem de dez tribos e meia se perdeu no
tempo em meio ao reino assírio para onde foram transportadas.
Um selamento, portanto, de 144.000 pessoas das doze tribos
de Israel, se torna possível apenas antes de Israel se perder em meio ao reino
Assírio. No entanto, segundo provas encontradas nas escrituras inspiradas,
provas estas já vistas aqui, a obra do selamento deve ocorrer entre a abertura
do 6º e do 7º selo (Apocalipse 6, 7, 8), período que aponta a obra do assinalamento somente a partir
do século 19, quando guerras atômicas, capazes de destruir “a terra,... o mar”, e as
“árvores” (Ap 7:2), poderiam então impedir a obra do selamento.
Guerras tais, com estas características descritas, capazes de destruir a natureza ou a Terra, fazem parte do
cenário mencionado em Apocalipse 7:2 somente no século 20. Sendo assim, o
cenário próprio, segundo Apocalipse 7, no qual ocorre a obra do selamento, não remonta ao período onde existiam
as 12 tribos de Israel. Ainda mais, suponhamos que, somente naquele período era possível um assinalamento de 144.000 pessoas do Israel literal, este número já deveria a muito tempo ter sido completado enquanto existiram estas 12 tribos. Neste caso, segundo Apocalipse 7, os ventos já teriam sido soltos e o fim já teria chegado. Se porém, este número ainda não completou, e isto é lógico pois os ventos estão ainda sendo sopitados pelos anjos, então esta obra está ocorrendo ainda em nossos dias.
Mas, a pergunta que nos cabe agora é: Como então é possível
selar 144.000 das 12 tribos sendo que estas tribos não existem mais?
Bem, se Deus prometeu e disse, ou profetizou, Ele pode
facilmente cumprir o que Ele vaticinou. Vamos ler alguns textos:
“E não
presumais, de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo
que, mesmo destas pedras, Deus pode
suscitar filhos a Abraão.” Mateus 3:9.
Achar, portanto, pessoas para que sejam filhos de Abraão descendentes
de Israel, não constitui um problema para Deus. Vejamos o que Paulo explicou
sobre isto:
“Porque não é judeu o que o é exteriormente,
nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne. Mas é judeu o que o é no interior, e circuncisão a que é do
coração, no espírito, não na letra; cujo louvor não provém dos homens, mas de
Deus.”
Romanos 2:28,29.
Quem é o verdadeiro judeu ou israelita? Não é aquele que
descendeu literalmente de Jacó, mas aquele que é de coração, e não na carne. Em
outra passagem, Paulo foi mais enfático e claro:
“Não
que a palavra de Deus haja faltado, porque nem
todos os que são de Israel são israelitas; Nem por serem descendência de
Abraão são todos filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua descendência. Isto
é, não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa são contados como descendência.” Rom. 9:6-8.
Perceba como inicia-se a afirmação do apóstolo: “Não que a palavra de Deus haja faltado”,
disse ele. Ou seja, todas as promessas de Deus serão cumpridas. Se Deus disse
que serão selados 144.000 das tribos de Israel, isto com certeza se cumprirá!
Mas, de que forma, já que as tribos literais não existem mais? Paulo argumenta
que as promessas de Deus não se cumprirão com a descendência literal de Abraão,
não com israelitas literais, mas com os filhos da promessa. Estes sim são os
verdadeiros israelitas e não os descendentes segundo a carne! Para Deus, não se
conta se é ou não um israelita literal, o que Deus considera é se a pessoa é
uma nova criatura em Cristo Jesus, isto faz do ser humano o verdadeiro
israelita e herdeiro de todas as promessas divinas, incluindo ser selado entre
os 144.000!
“A
circuncisão é nada e a incircuncisão nada é, mas, sim, a observância dos
mandamentos de Deus.” I Corintios 7:19.
“Porque
em Cristo Jesus nem a circuncisão, nem a incircuncisão tem virtude alguma, mas sim o ser uma nova criatura.” Gálatas 6:15.
É isto que Deus conta como critério para ser assinalado
neste tempo.
Ao escrever aos Gálatas, Paulo fez a seguinte declaração:
“Ora,
as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não diz: E às
descendências, como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua descendência, que é Cristo.” Gálatas 3:16.
Cristo é a legítima descendência de Abraão, e a esta
descendência foram feitas todas as promessas pertencentes a Israel. E “nisto não
há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus.” Gálatas 3:28.
E conclui de forma maravilhosa o grande apóstolo:
“E, se
sois de Cristo, então sois descendência
de Abraão, e herdeiros conforme a promessa.” Gálatas 3:29.
Os que serão selados, portanto, são os que aceitaram a
Cristo como salvador e que tem direito a todas as promessas referentes a Israel,
pois são assim incorporados à igreja dos santos que guardam os mandamentos. Estes são os israelitas que receberão na testa
o selo do Deus vivo.
Comentando o texto aos Gálatas 3, Gerhard F. Hasel,
escreveu:
“Nossa
ligação com Cristo nos provê de completude ou inteireza em Cristo, uma
inteireza que inclui também todas as promessas das quais Cristo é herdeiro. Por
meio de Cristo todos os crentes, não importa sua origem nacional ou étnica, são
herdeiros.”[1]
“O
verdadeiro Israel de Deus é co-herdeiro de Cristo.” [2]
“A
ideia aqui (Galatas 3) é que aqueles que são de Cristo são também ‘herdeiros’ das promessas dadas por Deus ao
seu povo no Antigo testamento.” [3]
“A
distinção entre israelita e não-israelita, ou judeu e gentio, com respeito á
salvação é removida. Todos os seres humanos partilham da mesma salvação e
promessas feitas àqueles que são o povo de Deus.”
“Se é
este o caso, quem é a descendência/semente de Abraão? É a descendência/semente
de Abraão apenas o judeu étnico? De maneira nenhuma. A descendência/semente de
Abraão consiste de crentes e gentios; aqueles que aceitaram a Cristo como seu
Senhor e salvador. A descendência/semente de Abraão são os que pertencem a
Cristo e não aqueles que são o ‘Israel natural...’”[4]
Citando o comentarista Joachim Rhode, Gerhard ainda
escreveu:
“A expressão [Israel de Deus] não significa
os incrédulos membros do povo judeu, igualmente não significa o povo judeu
em sua totalidade e nem os cristãos judeus que se converteram, mas todos os
crentes em Cristo sem levar em consideração a sua origem étnica ou religiosa.”[5]
E em base desse comentário podemos ler:
“Os
membros crentes da igreja são os ‘Israel de Deus’ e os herdeiros de todas as
promessas por meio de Jesus Cristo, com quem eles são co-herdeiros.”[6]
“Esta
descrição coerente de Paulo em Romanos, Corintios, Gálatas, Colossenses e
Efésios não apoia a distinção entre um
‘Israel natural’ e a igreja, a qual é constituída de judeus e gentios
convertidos, e ambos, por meio de Cristo, são juntamente co-herdeiro das
promessas divinas do Antigo testamento.”
Comentando o texto de Romanos 8 Gerhard também escreveu:
“’Todas
as coisas’ incluiu tudo e não omite nada. Se nada é omitido, então em Cristo e
com Cristo são dadas a todos os crentes ‘todas as coisas’, inclusive as
promessas previamente feitas a Abraão e seus descendentes.”[7]
E depois de reafirmar exaustivamente a ideia de que os
verdadeiros israelitas a receberem as bênçãos de Deus e dos quais a Bíblia faz
referência como sendo o verdadeiro Israel, são os que aceitam a Cristo e Sua
verdade, o autor do artigo conclui:
“Podemos
resumir a descrição do Novo Testamento. A convergência coerente da evidência
neotestamentária aponta em uma só direção. O
‘Israel de Deus’ é a igreja, a qual é a comunidade de crentes, que é
constituída de judeus e gentios convertidos e crentes. Junto eles são os herdeiros
por meio de Cristo de todas as promessas da aliança já feitas no Antigo
Testamento...”[8]
“Resumindo,
o Antigo e Novo Testamento concordam que o
verdadeiro Israel de Deus são os crentes, não se levando em consideração a
origem étnica ou identidade nacional.”[9]
O Espírito de Profecia confirma esta questão de muitas
maneiras. Um delas é um texto encontrado no livro Grande Conflito:
“A voz de Deus é
ouvida, no Céu, declarando o dia e a hora da vinda de Jesus e estabelecendo o
concerto eterno com Seu povo. Semelhantes ao estrondo do mais forte trovão Sua
palavras ecoam pela Terra inteira. O Israel
de Deus fica a ouvir, com olhar fixo no alto.” [10]
Devemos lembrar que neste tempo, este Israel de Deus é
composto também pela irmã Hasting, Ellen White e outros, que, segundo o
Espírito de Profecia, já foram por aquele tempo, ao ser ouvida a voz de Deus, ressuscitados.[11]
Neste período, como vimos, não existe mais as tribos do
Israel literal, sendo assim estas compostas dos fieis que viveram no último
período da história da igreja. Devemos perceber que, neste tempo, os únicos
santos a viverem na Terra serão os 144.000, do qual todos os crentes fiéis na
tríplice mensagem, incluindo Ellen White, também fazem parte. Ao se referir a
estes santos selados, ela escreveu:
“Logo ouvimos a voz de Deus,
semelhante a muitas águas, a qual nos
anunciou o dia e a hora da vinda de Jesus.”
“Os
santos vivos em número de 144.000... Ao declarar Deus a hora verteu sobre nós...”
“Por
causa de nosso estado feliz e
santo, os ímpios enraiveceram-se e arremeteram violentamente para lançar mão de
nós, a fim de lançar-nos na prisão, quando estendemos a mão em nome do
Senhor e eles caíram inermes ao chão. Foi então que a sinagoga de Satanás
conheceu que Deus havia amado a nós,
que lavávamos os pés uns aos
outros e saudávamos os irmãos
com ósculo santo.” [12]
Fica claro assim que, os israelitas que serão selados, são
compostos não de um Israel literal segundo a carne, mas de um Israel espiritual
segundo a promessa!
Talvez seja interessante notar que os que dizem defender a
posição de alguns pioneiros adventistas no que diz respeito à Tri-unidade, e,
diga-se de passagem, de poucos pioneiros, deveriam também defender a posição
dos pioneiros, e da maior parte deles, também na questão dos 144.000. Neste
link você poderá verificar o que os pioneiros da igreja Adventista criam sobre este
número de selados.
Eles acreditavam que os que comporiam este número eram
aqueles que aceitassem a verdade da tríplice mensagem angélica, independente de
sua origem étnica. Na questão da Tri-unidade, o Espírito de Profecia corrigiu o
equívoco dos pioneiros, por outro lado, manteve e confirmou a verdade na qual
eles acreditam sobre os 144.000. O citado movimento dos adventistas históricos,
continuam mantendo a posição equivocada de alguns poucos pioneiros sobre a
Divindade em detrimento da inspiração. Mas alguns – digo isto porque parece não
haver uniformidade de crença no grupo citado – não creem na posição histórica da igreja
Adventista sobre os 144.000 também em detrimento da palavra inspirada! Vai
entender!
Para maiores informações utilize o blog ou pelo e-mail: cristiano_souza7@yahoo.com.br
[1] Parausia – Revista do Seminário Adventista
Latino-Americano de Teologia – Ano 6-Nº 1/1º Semestre de 2007, pg 17.
[2] Idem, pg 18.
[3] Idem.
[4] Parausia – Revista do Seminário Adventista
Latino-Americano de Teologia – Ano 6-Nº 1/1º Semestre de 2007, pg 18.
[5] Idem.
[6] Idem.
[7] Idem.
[8] Idem.
[9] Parausia – Revista do Seminário Adventista
Latino-Americano de Teologia – Ano 6-Nº 1/1º Semestre de 2007, pg 18.
[10] White, E. G. O Grande Conflito, pg. 640. Casa Publicadora Brasileira.
[11] White, E. G. Mensagens Escolhidas, vol. 2. Pg. 263. Casa Publicadora Brasileira.