sexta-feira, 15 de março de 2019


ELLEN WHITE CONFIRMOU COMO VERDADE REVELADA OS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS ALEGADAMENTE ANTITRINITARIANOS DE 1872?


Uma Breve Refutação de um dos principais argumentos dos antitrinitarianos.

Por: Reginaldo Castro.

Não é por acaso que os dissidentes antitrinitarianos proclamam retumbantemente que a crença atual na Trindade constitui uma apostasia da verdade. Há um raciocínio bem específico que sustenta essa acusação deles. Nesse breve artigo, quero delinear com precisão esse raciocínio e em seguida avaliar sua validade lógica bem como sua base factual, isto é, seu fundamento nos fatos.

Para entender bem o argumento antitrinitariano, é preciso apresentar algumas informações históricas. Em 1872, Uriah Smith escreveu um documento com o seguinte título: A Declaration of the Fundamental Principles Taught  and  Practiced  by  the  Seventh-day  Adventists [Uma Declaração dos Princípios Fundamentais Ensinados e Praticados pelos Adventistas do Sétimo Dia]. Esses princípios foram reimpressos na Signs of the Times do dia 4 de Junho de 1874. Essa declaração de crença continha 25 artigos de fé, cobrindo uma gama de assuntos como Deus, Cristo, as Escrituras, o Batismo, o Juízo, o Sábado, o estado dos mortos etc. Porém, os pontos que nos interessam aqui são os que definem Deus, Cristo e Espírito de Deus, os quais são, respectivamente, o 1, o 2 e o 16. Esses pontos são explicitamente antitrinitarianos? Vejamos.

“1. Que existe um Deus pessoal, ser espiritual, o Criador de todas as coisas, onipotente, onisciente,  e  eterno;  infinito  em  sabedoria, santidade,  justiça,  bondade, verdade, e misericórdia; imutável, e presente em todo o lugar por seu representante, o Espírito Santo. Salmo 139:7.”

"2. Que existe um Senhor, Jesus Cristo, o Filho do Eterno  Pai, aquele por quem Ele criou todas as coisas  e por meio de quem elas existem ; que Ele assumiu a natureza da semente de Abraão para a redenção de nossa raça caída; que habitou entre os homens cheio de graça e verdade, viveu nosso exemplo morreu nosso sacrifício, foi ressuscitado para nossa justificação, ascendeu ao alto para ser nosso único mediador no santuário celestial, onde, com seu próprio sangue, faz expiação por nossos pecados, cuja expiação, longe de ter sido feita na cruz, onde se deu somente a oferta do sacrifício, é a última porção de sua obra como sacerdote segundo o exemplo do sacerdócio levítico, que prenunciava e prefigurava o ministério do Senhor no céu. Ver Lev. 16; Heb. 8:4, 5; 9:6, 7.

"16. Que o Espírito de Deus foi prometido para manifestar-se na Igreja mediante certos dons, enumerados especialmente em 1 Cor. 12 e Efé. 4; que esses dons não têm desígnio de superar, ou tomar o lugar, da Bíblia, que é suficiente para fazer-nos sábios para a salvação, mais do que a Bíblia pode tomar o lugar do Espírito Santo; que, ao especificar os vários canais de sua operação, o Espírito tem simplesmente feito provisão para sua própria existência e presença com o povo de Deus até o fim do tempo, para conduzir a um entendimento dessa palavra que inspirou, para convencer do pecado, e operar uma transformação no coração e vida; e que aqueles que negam ao Espírito o seu lugar e operação, negam de fato plenamente essa parte da Bíblia que lhe atribui esta obra e posição.”

A alegação do opositor é que esses princípios apresentam uma visão antitrinitariana (semi-ariana) da Divindade, ou seja, que somente o Pai é o Deus eterno; que Cristo é o Filho do Deus eterno. Isso significaria duas coisas: uma, que Cristo foi literalmente gerado pelo Pai na eternidade, tendo, portanto, um início; dois, que Cristo, como Filho, herda a mesma natureza do Pai, sendo, portanto, divino e revestido de todas as honras devidas ao Pai. O Pai possui toda a glória porque lhe é inerente; o Filho possui toda a glória porque esta lhe foi conferida. E o Espírito Santo seria apenas o poder e a influência divina mediante a qual Pai e Filho atuam e são representados.  

Depois de estabelecer que os Princípios Fundamentais de 1872 defendiam o antitrinitarianismo, os dissidentes partem para a cartada final, ao afirmarem que Ellen White confirmou, com seu dom profético, a veracidade desses Princípios. Dois textos de Ellen White que são usados por eles sãos os seguintes:

“Os principais pontos de nossa fé como temos abraçado hoje estão firmemente estabelecidos. Ponto após ponto foram claramente definidos, e todos os irmãos estão juntos em harmonia. O grupo  inteiro dos crentes está unido na verdade.  Existiram aqueles que vieram com estranhas doutrinas, mas nos nunca tememos nos encontrar com eles. As nossas experiências foram maravilhosamente estabelecidas pelo Espírito Santo. (Ellen White. Manuscrito 135, 1903).

"Mensagens de toda espécie e feitio têm feito pressão sobre os adventistas do sétimo dia, pretendendo substituir a verdade que, ponto por ponto, tem sido buscada com estudo e oração, e atestada pelo poder milagroso do Senhor. Mas os marcos que nos tornaram o que somos, devem ser preservados, e sê-lo-ão, conforme Deus o mostrou mediante Sua Palavra e o testemunho de Seu Espírito. Ele nos conclama a nos apegarmos firmemente, com a mão da fé, aos princípios fundamentais baseados em autoridade inquestionável." (Mensagens Escolhidas, vol. 1, p. 208).

Os textos acima não são os únicos citados por eles, mas representam bem o tipo de texto de Ellen White que eles usam para argumentarem que a profetisa de fato confirmou, pela inspiração do Espírito Santo, que a visão semi-ariana da Divindade supostamente ensinada no texto dos Princípios de 1872 era a verdadeira. Como hoje a crença da Igreja é de que Deus existe eternamente em três Pessoas – Pai, Filho e Espírito Santo – os dissidentes acusam os trinitarianos de apostasia, uma vez que abandonaram a verdade sobre a Divindade atestada pelo Espírito Santo mediante o ministério profético de Ellen White. O argumento do dissidente procede? Houve, de fato, uma mudança da verdade para o erro? Vamos agora submeter essa tese a uma breve análise.

Existem pelo menos três observações que pulverizam esse argumento antitrinitariano. Primeira, o texto, tal como se encontra nos Princípios de 1872, não defendem o antitrinitarianismo. O prof. Balbach observa:

“Nesses Princípios Fundamentais (1872), nem o arianismo nem o trinitarianismo são mencionados entre as crenças adventistas fundamentais. Nem era o antitrinitarianismo alistado em outras declarações do que era entendido como verdade presente. J. N. Loughborough, em O Grande Movimento Adventista, cuidadosamente traça o desenvolvimento de toda doutrina importante e verdade definidora do adventismo dos primeiros tempos.. Ele SILENCIA sobre o antitrinitarianismo como um ponto da verdade presente. O livro Synopsis of Present Truth [Resumo da Verdade Presente], que se baseava nas Conferências de Tiago White e Uriah Smith no Instituto Bíblico,  não se refere ao antitrinitarianismo como uma doutrina entre os adventistas do sétimo dia. Esse silêncio é significativo, pois essas conferências foram apresentadas para o propósito mesmo de guiar o ministério adventista à unidade em toda a verdade presente.” (Alfons Balbach. Considerações Sobre a Divindade, p. 20, 21).

Os termos usados na redação dos pontos referentes a Deus, Cristo e ao Espírito de Deus podem ser tranquilamente interpretados de forma que preserve a tese trinitária. Observe que o texto afirma que há um Deus, no caso o Pai, Jesus Cristo, o Filho do Eterno Pai e o Espírito de Deus. Não há nada de caráter antitrinitário nesses termos. É verdade que, em 1872, a visão predominante ainda era a antitrinitariana, mas estamos analisando o texto tal como está, pois se Ellen White aprovou esse texto, precisamos verificar se nele há uma explícita negação da doutrina da Trindade. Se não há, o antitrinitariano não pode afirmar, ainda que ela tivesse aprovado o texto, que a profetisa confirmou princípios antitrinitarianos, pois ela teria aprovado o texto, o qual não nega a Trindade, embora o seu autor fosse semi-ariano. O fato é que nenhuma linha do que Uriah Smith escreveu conflita com a visão trinitária da Divindade. Portanto, EGW poderia aprová-lo sem com isso estar legitimando o semi-arianismo de Smith.

Segunda observação: Ellen White NUNCA afirmou que os Princípios Fundamentais de 1872 foram milagrosamente confirmados pelo Espírito Santo. Os dois textos, do Manuscrito 135 (1903), e o de Mensagens Escolhidas, vol. 1, p. 208, geralmente usados pelos antitrinitarianos, de fato estão falando dos princípios fundamentais, dos marcos antigos, das doutrinas definidoras do adventismo, as quais foram o resultado de muita oração, estudo da Bíblia e confirmação por meio das visões da mensageira do Senhor. O problema é que, ao analisar o contexto dessas duas passagens, constata-se que Ellen White de forma alguma está se referindo ao documento de 1872. Vamos ler o contexto (parágrafos precedentes) dos dois trechos, respectivamente.

“Meu marido, o pastor José Bates, o pai Pierce, o pastor Edson, um homem ávido, nobre e verdadeiro, e muitos outros cujos nomes não consigo recordar agora, estavam entre aqueles que, após a passagem do tempo em 1844, buscaram a verdade. Em nossas reuniões importantes, esses homens se reuniam e buscavam a verdade como a um tesouro escondido. Reunía-me com eles e estudávamos e orávamos fervorosamente, pois sentíamos que era nosso dever aprender a verdade de Deus. Muitas vezes ficávamos reunidos até alta noite e, às vezes, a noite toda, orando por luz e estudando a palavra. Quando jejuamos e oramos, um grande poder veio sobre nós. Mas eu não conseguia entender o raciocínio dos irmãos. Minha mente estava por assim dizer fechada e eu não conseguia compreender o que estávamos estudando. Então o Espírito de Deus vinha sobre mim, eu era arrebatada em visão, e era-me dada uma clara explicação das passagens que estávamos estudando, com instruções sobre a posição que deveríamos tomar em relação à verdade e ao dever. Foi-me tornada clara uma sequência de verdades que se estendia daquele tempo até ao tempo em que entraremos na cidade de Deus, e transmiti a meus irmãos e irmãs a instrução que o Senhor me deu. Eles sabiam que, quando eu não estava em visão, eu não conseguia entender esses assuntos e aceitavam como luz direta do céu as revelações dadas. Os principais pontos de nossa fé, como os mantemos hoje, foram firmemente estabelecidos. Ponto após ponto foi claramente definido, e todos os irmãos entraram em harmonia. Toda a companhia dos crentes estava unida na verdade. Houve aqueles que vieram com doutrinas estranhas, mas nunca tivemos medo de enfrentá-los. Nossa experiência foi maravilhosamente confirmada pela revelação do Espírito Santo.” - Manuscrito 135 (1903).

“Que influência essa, que desejaria levar os homens, neste período de nossa história, a trabalhar de modo enganador e poderoso, para solapar os alicerces de nossa fé — alicerces QUE FORAM LANÇADOS NO PRINCÍPIO DE NOSSA OBRA mediante DEVOTO ESTUDO DA PALAVRA E PELA REVELAÇÃO? Sobre esses alicerces temos estado a construir, nos últimos CINQUENTA anos. Admirai-vos de que, quando vejo o princípio de uma obra que pretende remover alguns dos pilares de nossa fé, tenha algo a dizer? Tenho de obedecer à ordem: “Enfrentai-o!”. Tenho de proclamar as mensagens de advertência que Deus me dá para divulgar, e então deixar com o Senhor os resultados. Tenho de agora apresentar o assunto em todos os seus aspectos, pois o povo de Deus não deve ser despojado. Somos o povo de Deus, observador dos mandamentos. Nos passados cinquenta anos tem-se feito pressão sobre nós com toda sorte de heresias, a fim de embotar-nos o espírito em relação aos ensinos da Palavra — especialmente quanto ao ministério de Cristo no santuário celestial e à mensagem do Céu para estes últimos dias, como foi dada pelos anjos do décimo quarto capítulo do Apocalipse. Mensagens de toda espécie e feitio têm feito pressão sobre os adventistas do sétimo dia, pretendendo substituir a verdade que, ponto por ponto, foi buscada com estudo e oração, e atestada pelo poder milagroso do Senhor. Mas OS MARCOS que nos tornaram o que somos, devem ser preservados, e sê-lo-ão, conforme Deus o mostrou mediante Sua Palavra e o testemunho de Seu Espírito. Ele nos conclama a nos apegarmos firmemente, com a mão da fé, aos princípios fundamentais baseados em autoridade inquestionável.” - Mensagens Escolhidas, vol. 1, p. 208.

Note-se que algumas expressões se repetem ou são equivalentes. “Após a passagem do tempo”, “Nos passados cinquenta anos” (o texto de ME é de 1904, os cinquenta anos é uma média que vai chegar lá nos primeiros anos do movimento. O próprio texto se refere ao “princípio de nossa obra”). Os dois textos mencionam o estudo dedicado da Bíblia e a Revelação do Espírito. É inegável que os dois textos estão se referindo a mesma época: os primeiros anos após a passagem de 1844, quando os primeiros adventistas se entregaram completamente à oração e se debruçaram intensamente sobre a Bíblia a fim de aprenderem o que é a verdade. Seus esforços foram recompensados pela atuação do Espírito de Deus por meio do dom profético de Ellen White. Durante esse período inicial, os pilares da fé adventista foram estabelecidos. Em outro texto, ela faz a mesma recordação. Note semelhança nas expressões:

Os cinquenta anos passados não apagaram um jota ou princípio de nossa fé ao recebermos as grandes e maravilhosas evidências que se tornaram certas para nós em 1844, após a passagem do tempo [...] Aquilo que o Espírito Santo testificou como verdade após a passagem do tempo, em nosso grande desapontamento, é o sólido fundamento da verdade. Os pilares da verdade foram revelados e nós aceitamos os princípios fundamentais que nos tornaram o que somos – adventistas do sétimo dia, observando os mandamentos de Deus e tendo a fé de Jesus.” (CARTA 326, 1905).

Creio que esteja mais do que claro que os antitrinitarianos fazem uma aplicação totalmente enganosa desses textos. quando os aplicam ao princípios de 1872. O contexto se refere aos anos iniciais após a passagem de 1844. No próximo texto, Ellen White deixará bem claro que doutrinas são essas que foram os frutos de muita oração, estudo da Palavra e que o Espírito Santo, por meio de visões, confirmou a veracidade bíblica dessas doutrinas. Preste muita atenção no texto a seguir.

“Em Mineápolis, Deus concedeu preciosas gemas da verdade ao Seu povo. Essa luz do Céu enviada a algumas pessoas foi rejeitada com toda a resistência que os judeus manifestaram ao rejeitar a Cristo, havendo muita discussão em torno da defesa dos antigos marcos. Ficou evidente, porém, que quase nada sabiam sobre o que eram os antigos marcos. Ficou claro e foram feitos apelos diretos à consciência com base na Palavra de Deus; contudo, as mentes estavam cauterizadas, seladas contra a entrada da luz, porque decidiram que seria um perigoso erro remover os “marcos antigos” quando não se estava removendo nada, além das idéias errôneas do que constituíam os antigos marcos. O passar do tempo em 1844 foi um período de grandes acontecimentos, expondo ao nosso admirado olhar a purificação do santuário que ocorre no Céu, e tendo clara relação com o povo de Deus na Terra, e com as mensagens do primeiro, do segundo e do terceiro anjos, desfraldando o estandarte em que havia a inscrição: “Os mandamentos de Deus e a fé de Jesus.” Um dos marcos desta mensagem era o templo de Deus, visto no Céu por Seu povo que ama a verdade, e a arca, que contém a lei de Deus. A luz do sábado do quarto mandamento lançava os seus fortes raios no caminho dos transgressores da lei de Deus. A não-imortalidade dos ímpios é um marco antigo. Não consigo lembrar-me de alguma outra coisa que possa ser colocada na categoria dos antigos marcos. Todo esse rumor sobre a mudança do que não deveria ser mudado é puramente imaginário. (O Outro Poder, p. 21 [Manuscrito 13, 1889]).

A QUAIS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS EGW ESTAVA SE REFERINDO?

  1. A purificação do santuário celestial
  2. A tríplice mensagem angélica
  3. Os mandamentos de Deus
  4. A fé em Jesus
  5. O sábado
  6. A não imortalidade dos ímpios.
Estes são, de acordo com a voz profética, os MARCOS ANTIGOS QUE NOS TORNAM O QUE SOMOS. Estas são as doutrinas chamadas de pilares de nossa fé, os principais pontos de nossa fé, dentro do contexto das passagens citadas pelos antitrinitarianos. Aliás, pergunto agora a eles: onde está a visão semi-ariana da Divindade como um dos marcos antigos classificados pela própria Ellen White no texto acima, escrito em 1889? Nem sinal. Portanto, comprova-se documentalmente que o argumento antitrinitariano é infundado.

É importante ressaltar que uma doutrina verdadeira e atestada pelo Espírito de Deus não é necessariamente uma doutrina que pertença à categoria dos marcos antigos. Por exemplo: note que a Sra. White não menciona justiça pela fé, matrimônio, reforma de saúde, reforma do vestuário, etc. Para entender isso, precisamos observar que quando Ellen White define os marcos antigos no texto do Manuscrito 13, de 1889, a palavra que ela usa e que é traduzida por marcos antigos é LANDMARK. No Webster's 1828 American Dictionary of the English Language - que foi o dicionário padrão de Inglês ao longo da vida de Ellen White – define landmark da seguinte forma:

1. Marca que aponta o limite da terra; qualquer marca ou objeto fixo; como uma árvore marcada, uma pedra, uma vala ou um monte de pedras, pelo qual os limites de uma fazenda, uma cidade ou outra parte do território podem ser conhecidos e preservados.”

Ou seja, um “landmark” se refere a algo que delimita um território, que IDENTIFICA uma determinada área. Em nosso contexto, quando EGW fala de algumas doutrinas como sendo as “landmarks” do adventismo, ela está dizendo que essas são as crenças que IDENTIFICAM O O ADVENTISMO, SÃO AS DOUTRINAS QUE DEMARCAM, DISTINGUEM NOSSO TERRITÓRIO TEOLÓGICO, tal como estacas que demarcam a distinção de um campo em meio aos outros ao redor. Por isso ela diz que são marcos que nos tornam o que somos. A purificação do santuário celestial, a tríplice mensagem angélica, os mandamentos de Deus, a fé em Jesus, o sábado, a não imortalidade dos ímpios são doutrinas que de fato NOS IDENTIFICAM, NOS TORNAM O QUE SOMOS. Nenhuma outra igreja defende essas doutrinas dentro do contexto do Santuário Celestial e da Tríplice Mensagem Angélica. Já a justiça pela fé, o matrimônio, a reforma de saúde, a reforma do vestuário, etc SÃO DOUTRINAS VERDADEIRAS, MAS NÃO DISTINTIVAS. Essas doutrinas não nos identificam automaticamente.

Retomando: a visão antitrinitariana da Divindade jamais aparece como um dos antigos marcos, algo estranho e incompreensível se os textos de EGW em questão estão realmente legitimando o suposto antitrinitarianismo dos princípios fundamentais de 1872.

O parágrafo inicial do documento escrito por Smith traz uma informação muito importante para a nossa discussão aqui. Veja:

“Ao apresentar ao público esta sinopse de nossa fé, desejamos que seja distintamente compreendido que não temos nenhum artigo de fé, credo ou disciplina, além da Bíblia. Não apresentamos isto como tendo qualquer autoridade sobre nosso povo, nem é destinado a assegurar uniformidade entre ele, como um sistema de fé, mas é uma breve declaração do que é e tem sido, com grande unanimidade, mantida por ele. Com frequência achamos necessário responder a indagações sobre este assunto. ” - [Uriah Smith], A Declaration of the Fundamental Principles Taught and Practiced by the Seventh-day Adventists (Battle Creek, MI: Steam Press, 1872).

Assim, a terceira observação é: o próprio Uriah Smith deixou claro que o documento em questão não deveria ser tomado como um credo fechado. Os antitrinitarianos têm muita dificuldade de entenderam esse ponto. Eles se esquecem de como o próprio Smith e os pioneiros pensavam sobre a questão da progressão no conhecimento do que é a verdade. Com a palavra, os pioneiros:

"Temos conseguido regozijar-nos  em verdades muito além do que então percebíamos. [...] MAS NÃO PENSAMOS DE MODO ALGUM QUE JÁ SABEMOS TUDO. ESPERAMOS AINDA PROGREDIR, DE FORMA QUE NOSSA VEREDA SE TORNE CADA VEZ MAIS BRILHANTE ATÉ SER DIA PERFEITO. Que mantenhamos SEMPRE UM ESTADO MENTAL INQUIRIDOR, BUSCANDO MAIS LUZ E MAIS VERDADE.” (Uriah Smith. RH, 30 de Abril de 1857). Agora Tiago White:

"Nunca foram as Sagradas Escrituras tão valorizadas pelo remanescente como agora. Quando o testemunho da Bíblia para começar o dia ao pôr do sol foi apresentado em clara luz, assim como outros assuntos foram apresentados na Review, eles [os primeiros adventistas] de bom grado abraçaram esse testemunho. E NÓS ACREDITAMOS QUE ELES MUDARIAM OUTROS PONTOS DE SUA FÉ SE ELES PUDESSEM VER UMA BOA RAZÃO PARA FAZÊ-LO A PARTIR DAS ESCRITURAS." (RH, 7 de Fevereiro de 1856).

Será que Ellen White pensava diferente?

"Percepções nítidas e claras da verdade nunca serão a recompensa da indolência. A investigação de cada ponto que foi recebido como verdade irá ricamente recompensar o pesquisador; ele encontrará pedras preciosas. E, investigando de perto todo jota e til que achamos ser verdade estabelecida, comparando escritura com escritura, podemos descobrir erros em nossa interpretação das Escrituras. Cristo quer que o pesquisador de sua palavra cave fundo nas minas da verdade. Se a pesquisa for realizada corretamente, serão encontradas jóias de valor inestimável. A palavra de Deus é a mina das insondáveis riquezas de Cristo." (Review and Herald, 12/07/1898).

“Há homens entre nós que professam compreender a verdade para estes últimos dias, mas que não investigarão com calma a verdade mais recentemente estabelecida. Estão decididos a não avançar além das estacas que estabeleceram e não ouvirão aqueles que, dizem eles, não estão em defesa dos marcos antigos. São tão autossuficientes que tornam impossível que argumentemos com eles. Eles consideram uma virtude estar em discórdia com seus irmãos e fechar a porta, para que a luz não encontre uma entrada para o povo de Deus. Isso exigirá sabedoria celestial para saber como lidar com esses casos. A luz virá para o povo de Deus, e aqueles que tentarem fechar a porta irão se arrepender ou serão removidos do caminho. Chegou o momento em que um novo ímpeto deve ser dado ao trabalho. Há cenas terríveis diante de nós, e Satanás está tentando fazer com que não chegue ao nosso conhecimento precisamente as coisas que Deus quer conheçamos. Deus tem mensageiros e mensagens para o Seu povo. Se forem apresentadas ideias que diferem em alguns pontos de nossas doutrinas anteriores, não devemos condená-las sem uma busca diligente da Bíblia para ver se elas são verdadeiras. Devemos jejuar e orar e pesquisar as Escrituras, como fizeram os nobres bereanos, para ver se essas coisas são assim. Precisamos aceitar todos os raios de luz que nos chegam. Por meio de fervorosa oração e diligente estudo da Palavra de Deus, as coisas sombrias serão esclarecidas para o entendimento.” (Signs of the Times, 26/05/1890).

O ponto que estou estabelecendo aqui é claro: os pioneiros entendiam que poderiam crescer no conhecimento das verdades doutrinárias incluindo a possiblidade de terem se equivocado nas crenças que já defendiam. Como os antitrinitarianos provam que essa possibilidade não envolvia o antitrinitarianismo semi-ariano dos contemporâneos de Ellen White? Não podem provar.

Em resumo, o argumento antitrinitariano falha pelas seguintes razões:

1. A declaração de 1872 em si mesma não defende o antitrinitarianismo. Isso se confirma quando vemos que as obras de Loughborough e Smith, sobre a história das verdades basilares do movimento e que apresenta um resumo da verdade presente, respectivamente, não mencionam nada de caráter antitrinitário.

2. As passagens de EGW em seus contextos não se referem aos princípios fundamentais de 1872, mas às verdades estudadas e confirmadas pelo Espírito Santo nos anos iniciais do Movimento Adventista.

3. O próprio Uriah Smith afirma logo no primeiro parágrafo que o documento de 1872 não possuía qualquer autoridade sobre o povo no sentido de um credo imutável. Isso reflete não só o pensamento dele, mas dos pioneiros quanto à natureza dinâmica da verdade. Ou seja, eles não se fechavam dentro do que já tinham aprendido e estavam abertos para aprenderem mais, mesmo que isso significasse renunciar crenças já abraçadas. A própria EGW claramente defendia a possibilidade de haver erros doutrinários e que poderiam ser corrigidos com o progresso do estudo das Escrituras com a orientação do Espírito Santo. Obviamente, doutrinas confirmadas como verdadeiras pela manifestação do Espírito por meio do dom profético não estavam sujeitas a mudanças. No entanto, TEXTO NENHUM MOSTRA O ESPÍRITO DE DEUS USANDO SUA SERVA A FIM DE CONFIRMAR A VISÃO ANTITRINITARIANA DOS PIONEIROS.

Dessa forma, com essas observações, o argumento antitrinitariano desmorona.