Por: Márcio Vicente
Desde o princípio Deus se preocupou com o bem estar na raça humana. Mesmo antes do pecado Deus estabeleceu seu regime alimentar (Gênesis 1:29) como fonte de benção para a raça humana e também para os animais que não precisariam morrer e nem sofrer, pois não havia morte nem dor no Éden. Ao longo dos anos, porém, tem surgido aqueles que questionam o regime indicado por nosso Criador, e acham que podem comer de tudo, sem perguntar nada por causa da consciência ( I Coríntios 10:25). Estas pessoas, que “consultam o paladar em vez da razão”, dizem tomar como base para uma alimentação sanguinária, a Bíblia, e citam alguns textos para abonar e defender sua alimentação com base na morte e na dor. O Dr. Márcio Vicente, esclarece estes crassos erros teológicos e alimentares, e abre diante de nós a verdade da Palavra de Deus sobre esta questão.
Abaixo, o texto que ele nos
enviou:
Respondendo os argumentos da
turma do “liberou geral” sobre as regras alimentares da Bíblia. Sobre Marcos 7:15 e 19, diz a
Bíblia:
“Nada há fora do homem que,
entrando nele, possa contaminá-lo; mas o que sai do homem, isso é que o
contamina”
“porque não lhe entra no coração,
mas no ventre, e é lançado fora? Assim declarou puros todos os alimentos.”
No verso 17, do mesmo capítulo
“os discípulos interrogaram acerca desta parábola”. Veja caro leitor, é uma
parábola. Parábola é uma narrativa alegórica que transmite uma mensagem
indireta, por meio de comparação ou analogia. Assim, é evidente pelo contexto,
que Jesus não estava ensinando que não tinha valor algum, hábitos simples de
higiene como o de lavar as mãos, ou de que se poderia comer de tudo no sentido
absoluto.
Grosso modo, Jesus não estava
autorizando comer lagartos, cobras e baratas. Esta explicação simbólica deve
ser interpretada no sentido alegórico, espiritual: o que contamina o homem é o
que sai do homem e não o que entra pela boca. E sim! Todas as comidas são
puras. Mas barata não é comida, lagarto não é comida, sabão em pó não é comida
o porco não é comida. E quem afirma isto é o próprio Deus. (Levítico 11:17).
Empregar a esta parábola um
sentido literal, levará a conclusões teratológicas tais como: se tudo que sai
do homem é literalmente impuro: então até o louvor, a oração, a pregação seriam
igualmente impuros e contaminariam o homem, os adeptos desta teoria deveriam
ficar sempre calados para não se contaminarem. Do mesmo modo, se no sentido
literal, tudo que entra pela boca não contamina o homem, então não haveria
casos de intoxicações alimentares, envenenamentos; viroses e etc.
E o contexto da parábola mostra a
censura de Jesus aos fariseus que se apegavam a tradições humanas para anular o
mandamento de Deus. (Veja Marcos 7:9).
Ora, as regras alimentares dadas
por Deus em toda a Bíblia, em especial em
Levítico 11 não são tradições humanas, mas mandamentos de Deus!
Em Levítico capítulo 11, verso
44, Deus apresenta o motivo destas regras alimentares:
“Porque eu sou o Senhor vosso
Deus; portanto santificai-vos, e sede santos, porque eu sou santo; e não vos
contaminareis com nenhum animal rasteiro que se move sobre a terra”.
Tanto o mandamento, quanto a sua
motivação, continuam ainda válidas, tanto que o apóstolo Pedro repete a
necessidade de santidade, ao mencionar esta mesmíssima passagem. Vejam:
“ ... porquanto está escrito:
Sereis santos, porque eu sou santo.” I Pedro 1:16
Segundo Mateus 15:15, todos os
discípulos ficaram em dúvidas quanto ao significado desta parábola e rogaram a
Cristo: “Explica-nos esta parábola”.
E Jesus explicou nos versos
seguintes o sentido espiritual: que eram os maus pensamentos sobre homicídios,
adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias que contaminavam
o homem. E no final, ele diz, comer sem lavar as mãos, isso não contamina o
homem. Ora se a primeira parte da explicação é espiritual, a segunda também tem
que ser.
Sobre Romanos 14:2. Quem não come
carne é realmente fraco na fé?
Um texto fora do contexto é
pretexto para heresias. É evidente que tanto em Romanos 14 quanto em I
Coríntios 10:25-27, Paulo lida com o problema dos alimentos previamente
oferecidos aos ídolos.
Esta questão era causa de sérias
preocupações por parte de alguns cristãos que por objeções de consciência
evitavam o consumo de manjares (carne ou outro alimento) por entenderem que
eles estavam contaminados com os ídolos.
Paulo, pede aos irmãos de Roma
para serem tolerantes com estas pessoas, não porque houvesse algum mal intrínseco
em ser vegetariano ou carnívoro àquela época, mas porque realmente os alimentos
vendidos no mercado, embora consagrados aos ídolos, não afetavam de forma
alguma os cristãos.
É neste sentido o texto de I
Coríntios 10:25:
“Comei de tudo quanto se vende no
mercado, nada perguntando por causa da consciência.” Versão PJFA.
Algumas versões trazem, comei de
tudo que se vende no açougue, mas a tradução mais fiel ao texto original é a
que fala “comei de tudo quanto se vende no mercado”.
Alguns irmãos evangélicos, no afã
de defenderem a sua posição do “vale tudo em questões alimentares”, deturpam
esta passagem para alegar que os cristãos devem comer de tudo que se vende no
açougue sem nada perguntar. Mas a pergunta aqui, no seu devido contexto, não
era se a carne era de porco ou de boi, mas se era ou não previamente
sacrificadas aos ídolos!
E ainda assim, na hipótese de
entender este texto no sentido absoluto, estes mesmos evangélicos deveriam
comer ossos, sangue, sebo de boi etc, e sem nada perguntar, o que seria,
deveras, hilário!
Mas acompanhe comigo, fazendo uma
leitura fiel ao original: “comei de tudo quanto se vende no mercado, nada
perguntando...”, estes mesmos irmãos deveriam comer igualmente sabão, pasta de
dente, carvão mineral, papel higiênico etc, pois todas estas coisas são
vendidas no mercado. E mais! deveriam comer, “sem nada perguntar por causa da
consciência...” Percebem o absurdo?!?
Mas voltando ao texto de Romanos
14, que como já começa a evidenciar, a disputa em Roma e em Corinto era sobre
os alimentos consagrados aos ídolos, e não o vegetarianismo ou as regras
alimentares de Levítico 11.
Quem come só legumes, é fraco na
fé? (Ver verso 2).
Arrancar estes versos do seu
contexto, levará a conclusão de que Daniel e seus três companheiros, por
exemplo, que nas cortes de Babilônia comiam apenas legumes eram fracos na fé,
ou como queiram, fracos fisicamente. Isto seria um completo despropósito. Veja
Daniel 1: 8-15.
“Daniel, porém, propôs no seu
coração não se contaminar com a porção das iguarias do rei, nem com o vinho que
ele bebia; portanto pediu ao chefe dos eunucos que lhe concedesse não se
contaminar. Ora, Deus fez com que Daniel
achasse graça e misericórdia diante do chefe dos eunucos.E disse o chefe dos eunucos a
Daniel: Tenho medo do meu senhor, o rei, que determinou a vossa comida e a
vossa bebida; pois veria ele os vossos rostos mais abatidos do que os dos
outros jovens da vossa idade? Assim poríeis em perigo a minha cabeça para com o
rei. Então disse Daniel ao
despenseiro a quem o chefe dos eunucos havia posto sobre Daniel, Hananias,
Misael e Azarias: Experimenta, peço-te, os teus
servos dez dias; e que se nos dêem legumes a comer e água a beber.Então se examine na tua
presença o nosso semblante e o dos jovens que comem das iguarias reais; e
conforme vires procederás para com os teus servos.Assim ele lhes atendeu o
pedido, e os experimentou dez dias.E, ao fim dos dez dias,
apareceram os seus semblantes melhores, e eles estavam mais gordos do que todos
os jovens que comiam das iguarias reais.
Pelo que o despenseiro lhes
tirou as iguarias e o vinho que deviam beber, e lhes dava legumes.”
O resultado foi que Daniel e seus
companheiros aparecem mencionados na galeria dos campeões da fé mencionados em
Hebreus 11:33 e 44
Será que o Deus de Daniel não é o
mesmo Deus dos crentes romanos?
Vê-se claramente que a questão
não era o regime alimentar em si mesmo, mas as objeções de consciência de
alguns cristãos que achavam estar sendo contaminados pela comida vendida nos
mercados de Roma e de Corinto. Nada mais que isto.
Mas, e quanto a Romanos 14:14 que
diz “nada é de si mesmo imundo a não ser para aquele que assim o considera;
para esse é imundo.”
Nesta altura da leitura, você já
foi capaz de perceber o contexto geral das cartas de Paulo aos Romanos e aos
Coríntios. Agora vamos dizer algo para você que esclarecerá completamente este
ponto.
Observe que aqui Paulo fez uma
grande generalização, falou de “coisa” em sentido geral.
A palavra original traduzida do grego aqui
para “imunda” é “koinos”(κοινὸν),
que conforme o dicionário de grego Strong, trata-se daquilo que é cerimonialmente comum ou profano. Exemplificando,
uma galinha ou uma abóbora previamente consagradas a um ídolo se tornavam “imundas”
para alguns cristãos, e neste caso Paulo usa o termo “koinos” para qualificar
este estado de imundície ou impureza.
Agora, quando o idioma grego
antigo rotula algo intrinsecamente imundo (independentemente de qualquer
cerimônia), usa outro vocábulo: “akathartos” (ἀκαθάρτου),
que aparece, por exemplo, em Apocalipse 18:2; “coito de toda ave imunda e
aborrecível” ou Levítico 11:7 sobre o porco ser imundo na Versão Septuaginta,
(uma ave imunda ou um porco serão impuros independentemente de qualquer
cerimônia).
Portanto, em Romanos 14 Paulo apenas
aborda a noção que alguns cristãos tinham sobre coisas em si mesmas limpas
contaminadas pelas cerimônias religiosas dos pagãos feitas aos ídolos, nada
tendo haver com coisas imundas por natureza como o porco o é.
É por essa razão Paulo pede para
não perguntar... Por que na realidade uma galinha ou uma abóbora não mudava a
sua essência simplesmente porque havia sido consagrada a um ídolo, mas por
causa da consciência dificilmente alguém comeria um animal ou um pouco de arroz
cozido encontrado numa esquina, sabidamente usado em rituais de macumba, pois
mesmo sabendo que isto não tem o condão de fazer mal, a pessoa ficaria com
algum receio. Você não ficaria?
Então irmão, trocando em miúdos,
não confunda “koinos” com “akathartos”.
Paulo estaria sendo extremamente
contraditório, ao dizer que “nada é imundo” para mais a frente no texto de II
Coríntios 6:17 escrever:
“Pelo que, saí vós do meio deles
e separai-vos, diz o Senhor; e não
toqueis coisa imunda, e eu vos receberei;”.
Obviamente, se você leu toda a
explicação até aqui já deve estar pensando que o termo usado por Paulo aqui foi
“akathartos” e não “koinos”. Se você pensou isto, meus parabéns, você entendeu.
É só conferir em uma tradução grega da Bíblia e confirmar tudo o que foi dito
até agora.
Logo, concluímos, que no texto de
II Coríntios 6:17, o apóstolo Paulo manda não tocarmos em nada que em essência
seja imundo por natureza. Exemplificando, um porco será porco ainda que você dê
um banho nele e passe perfume, pois esta é a sua natureza. Não tem nada a ver
com cerimônia ou rituais de consagração a ídolos etc.
Você deve estar pensando que isto é mera
coincidência, mas não é. Vou citar uma passagem em que aparece as duas
terminologias gregas no mesmo texto, sito aqui Atos 10:14 onde Pedro afirmou,
“nunca comi nenhuma coisa comum (koinos) ou imunda (akathartos).
Percebeu? Pedro estava afirmando
que jamais havia comido algo cerimonialmente imundo (ex. de alimentos
sacrificados aos ídolos) ou intrinsecamente imundo (ex. de porcos, lagartos,
cobras ou baratas).
Agora é com você, faça sua
própria pesquisa, e tire suas conclusões.
Mas e quanto ao texto que diz “que
toda criatura é boa e não se deve rejeitar porque a Palavra de Deus e a oração
é santificada..." 1Tm 4:3-5
O contexto das cartas de Paulo é
o mesmo. Toda criatura é boa, porque tudo que Deus fez é bom... Mas não se deve
também aqui apegar-se ao sentido absoluto desta afirmação, do contrário, não
poderíamos rejeitar igualmente maconha, cidra, comigo-ninguém-pode, etc. Bastaria
fazer uma oração e tudo estaria resolvido.
Evidentemente, Paulo não quer
contradizer as regras alimentares impostas por Deus em sua Palavra. Tudo é bom
no seu devido contexto.
Acompanhe comigo sobre o que
Jesus falou sobre coisas boas e coisas não boas:
“E qual dentre vós é o homem que,
pedindo-lhe pão o seu filho, lhe dará uma pedra? E, pedindo-lhe peixe, lhe dará
uma serpente? Se vós, pois, sendo maus, sabeis
dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus,
dará bens aos que lhe pedirem? Mateus 7:9-11”.
O irmão evangélico poderia
argumentar que mesmo uma serpente que é uma criatura de Deus, poderia ser
recebida com ações de graça. Mas pelo texto, vê-se que esta não é a vontade de
Deus. Ele quer nos dar boas coisas, aliás Paulo também escreveu acerca do que é
bom em termos alimentares:
“Bom é não comer carne, nem beber
vinho..." Romanos 14:21”.
Muito antes a Bíblia, e agora a
Ciência estão a demonstrar que o alimento cárneo, e especialmente o porco, não
é uma boa coisa para se ter como alimento. E Jesus afirmou que nosso Pai
celestial sabe dar boas coisas aos seus filhos.
Mas alguém diria que Jesus
prometeu para aquele que cresse Nele beberia até veneno que não seria
danificado em nada Mc 16: 18...
Para estes respondo: Disse-lhe
Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus. Mateus 4:7
Outra objeção comum é afirmar que
aos gentios na Assembleia de Jerusalém mencionada em Atos 15 não foi imposta
nenhuma regra alimentar... Seria isto mesmo verdade?
Analise comigo. A lista de Atos
15 não é exaustiva e sim exemplificativa. É uma lista do que os gentios deviam
evitar de fazer, e não queria isto dizer que tudo o mais estava liberado.
O motivo é que no verso 19 discorre
sobre os gentios que se convertem a Deus. Ora todos sabem que conversão importa
em uma mudança de hábitos de vida. E além disso, o verso 18 assevera que são
conhecidas todas as obras de Deus desde o princípio do mundo, e no verso 21
afirma que Moisés é lido desde os tempos antigos e em cada sábado é lido nas
sinagogas.
Portanto, eram bem conhecidas as
regras alimentares, não se fazia necessário aos Apóstolos “chover no molhado” e
repetir exaustivamente estas regras novamente, pois estes gentios estavam bem
doutrinados a este respeito. Daí haver apenas o reforço mandamento: “Mas
escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, da fornicação, do
que é sufocado e do sangue." Atos 15:20”.
Espera aí, mas Paulo não disse
que tudo podia ser recebido com ações de graças? Porque se abster do que é
sufocado e do sangue? Essa turma do “liberou geral em questão alimentares” é
mesmo incoerente... Fazer o que, vamos orar por eles.
Termino com a recomendação de
Paulo:
“Portanto, quer comais quer
bebais, ou façais, qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus.” I
Coríntios 10:31